segunda-feira, 26 de abril de 2021

Surya

Dachshund fêmea, também conhecida como Salsichinha ou Cofap. Arlequim, pêlo curto. Eu a nomeei Surya, mas só a chamava de Pulga, Pulguinha, Puk ou Pukitita. Nascida em outubro de 2018, ainda ia completar 2 aninhos.

Um presente de Deus. Era minha sombra. Me acompanhava por todo lugar: se não fisicamente, com os olhos. Adorava uma rua. Saía de carro feliz da vida. Era só abrir a porta e esperar 5 segundos. Lá estava ela, no banco do passageiro, me encarando como quem pergunta: "para onde vamos?".

Orelhas ao vento? Não era muito fã. Gostava de sentir pouco ventinho no focinho e de observar a paisagem. E, de observar, já conhecia o caminho de alguns lugares: o da chácara, o da minha ex-casa, no SMPW 25 e a casa do vô, no Lago Norte... Ficava elétrica quando percebia que estávamos chegando a qualquer um desses locais.

Libriana, Surya era um bichinho sociável. Fazia festinha para todo mundo: Veridiana, Paulo Facundo, para a tia Giovanna, para o bisavô Teresio, para o Vovô Luís. Fugia dos meus sobrinhos Laura e Lucca, que, crianças, ainda são meio "Felícias" com os bichinhos. Amava ficar abraçada na minha saudosa mamãe, recebendo e dando beijinhos... Quando eu ia visitar mamãe em sua convalescença, antes de me dizer "oi" ela me perguntava da Pulga: "trouxe a pequena?".

Disse que me acompanhava para todo lugar? Deitava comigo na cama, no sofá, pedia colo enquanto eu trabalhava no computador e, como um gato, passeava sobre o teclado. Ela me ajudou a concluir a tese de doutorado: eu precisava ser objetiva no trabalho para poder ter tempo de lhe dar a atenção demandada.

Nunca era suficiente. Por mais carinho que recebesse, o olhar da Surya era sempre de cachorro carente. Ou faminto. Ela comia muito e, claro, amava os nossos sanduíches, tapiocas, batatinhas. Certa vez eu lhe comprei um Mac Lanche Feliz. A bichinha devorou tudo. No final, estava quase pedindo para tomar a coca-cola no canudinho...

Sentia muito frio, especialmente de noite. No fim do dia, sempre vinha se aninhar no meu colo ou corria para debaixo das cobertas, no meu quarto. Quando eu ia dormir, ela me seguia para a cama. Se enfiava debaixo do edredom, como se estivesse cavando um túnel e se enrolava do lado das minhas canelas.

Quando bebê, perturbava para sair do quarto de manhã cedinho. Com o tempo, habituou-se aos meus horários e ficava na cama comigo até a hora de eu acordar.

A vida dela foi ceifada no último dia 07.07.2020 -- a exatos 13 anos do óbito de minha avó -- em um desses acidentes incompreensíveis, um desses eventos tolos com os quais não nos conformamos.

Nós a enterramos no quintal da chácara situada na Rota do Cavalo, em Sobradinho-DF, debaixo de um pequeno pé de jamelão que veio da nossa ex-casa, no SMPW 25. Ela vivia atrás de lagartixas nas redondezas dessa mudinha...

Perdê-la doeu muito e ainda está doendo. Não é só saudade. Ela era muito nova, saudável, ativa. Fica também fica a sensação de vida desperdiçada, de momentos felizes -- ainda não concretizados -- que prematuramente se perderam, uma sensação de alegria abortada.

Vai, Pulguinha, vai brincar no Orum.

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